Nódulo pulmonar solitário

1 – Qual a definição de nódulo pulmonar solitário?
Nódulo pulmonar solitário (NPS) é definido como uma única opacidade pulmonar arredondada, bem circunscrita, envolta por parênquima pulmonar normal, com diâmetro menor ou igual a 3 cm e não associada à linfoadenomegalia mediastinal, pneumonia, atelectasia ou derrame pleural. Lesões pulmonares com essas características, mas maiores que 3 cm de diâmetro, são consideradas massas.

Alguns autores ainda dividem os nódulos em:

  • NPS clássico: diâmetro >10 mm
  • NPS subcentímetro: diâmetro até 8-10 mm

Esta divisão justifica-se pelo fato de que os NPS subcentímetros têm muito menos possibilidade de serem neoplásicos do que os clássicos.

2 – Qual a frequência do nódulo pulmonar solitário (NPS)?
O NPS é um problema comum na prática médica, tanto em atenção primária quanto em consultas com especialistas, correspondendo, na maioria das vezes, a achado de radiografia ou tomografia que foram realizadas por outros motivos.

A frequência de NPS relatada na literatura é variável. Por exemplo, estudos antigos conduzidos apenas com radiografia evidenciaram a presença de NPS em 1 de cada 500 exames (frequência de 0,2%); enquanto outros mais recentes, que usaram tomografia computadorizada de baixa dose para rastrear câncer de pulmão, mostraram NPS em 8% a 51% dos exames.

3 – Quais as causas mais comuns de nódulo pulmonar solitário (NPS)?
São muitas as lesões que se apresentam como do NPS. A tabela 1 lista as principais, dividindo-as entre malignas e benignas.

Tabela 1. Principais lesões que se apresentam como NPS

Lesões malignas

Carcinoma broncogênico

  • Adenocarcinoma
  • Ca. de células escamosas
  • Ca. de grandes células
  • Ca. de pequenas células
Metástases

  • Mama
  • Cabeça e pescoço
  • Melanoma
  • Cólon
  • Rim
  • Sarcoma
  • Tu. de células germinativas
  • Outros
Tumor carcinóide

Lesões benignas

Infecções granulomatosas

  • Histoplasmose
  • Coccidioidomicose
  • Tuberculose
  • Micobactéria atípica
  • Criptococose
  • Blastomicose
Outras infecções

  • Abscesso
  • Dirofilariose
  • Equinococose
  • Ascaridíase
  • Pneumocistose
  • Aspergiloma
Neoplasias benignas

  • Hamartoma
  • Lipoma
  • Fibroma
Vascular

  • Malformação artério-venosa
  • Varize pulmonar
Inflamatórias

  • Granulomatose de Wegener
  • Nódulo reumatóide
Outras

  • Cisto broncogênico
  • Amiloidoma
  • Atelectasia redonda

As causas benignas são mais comuns e, dentre elas, a tuberculose se destaca, sobretudo em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Tuberculose e histoplasmose constituem aproximadamente 80% de todos os nódulos pulmonares solitários benignos e o hamartoma, 10%. As demais causas são bem menos frequentes.

Entre as causas malignas, o carcinoma broncogênico é a mais comum. Embora todos os tipos histológicos possam se apresentar sob a forma de NPS, o mais comum é o adenocarcinoma. Entre as metástases, que representam 10% a 30% de todos os NPS ressecados, são mais comuns as de tumores de cabeça e pescoço, de câncer de mama, de rim, de cólon e de sarcomas de partes moles.

Capítulo 2 – Investigação inicial
4 – Qual a importância de uma abordagem diagnóstica racional do nódulo pulmonar solitário (NPS)?
Embora não seja a causa mais comum, sem dúvida o carcinoma broncogênico é a principal preocupação diante de um NPS. Isto porque, neste caso, trata-se de um câncer em estádio T1N0M0, cuja sobrevida após ressecção é altíssima, exatamente ao contrário de tumores em fases mais avançadas. Ou seja, deixar de ressecar um NPS cujo diagnóstico é câncer brônquico é perder uma grande chance de cura. Por outro lado, se todos os NPS forem ressecados, em mais da metade dos casos lesões benignas, que, a rigor, não precisavam ser abordadas, serão diagnosticadas.

A abordagem ideal do NPS seria a ressecção de todas as lesões malignas e a observação de todas as benignas. É claro que não é tão simples assim, pois o grande desafio é justamente definir o que é benigno e o que é maligno, o que nem sempre é possível exceto com a ressecção e estudo anátomo-patológico. Entretanto, dados clínicos e de imagem são úteis na tentativa de se estabelecer a natureza da lesão e serão discutidos a seguir.

5 – Quais são as ferramentas para abordagem do nódulo pulmonar solitário (NPS)?
São elas:

  • Clínica, sobretudo anamnese
  • Exames de imagem
  • Modelos quantitativos para o diagnóstico
  • Biópsia
  • Ressecção
6 – Quais são os dados clínicos úteis na abordagem do nódulo pulmonar solitário (NPS)?
O nódulo pulmonar solitário é habitualmente assintomático, assim, os dados clínicos relevantes para o diagnóstico são a idade do paciente e alguns antecedentes.

Idade
A probabilidade de malignidade de um NPS aumenta com a idade, conforme ilustrado na tabela 2. Apesar desta forte associação, não se descarta automaticamente a hipótese de neoplasia maligna em um NSP apenas pela idade.

Tabela 2. Probabilidade de malignidade no NPS em diferentes faixas etárias

Faixa etária

Probabilidade de malignidade

35-39 anos
40-49 anos
50-59 anos
>60 anos

3%
15%
43%
>50%

Números baseados em estatísticas norte-americanas. No Brasil, em virtude da alta prevalência de tuberculose, eles devem ser diferentes.

Tabagismo
História de tabagismo prolongado e/ou elevada carga tabágica aumentam as chances de malignidade no NPS.

História prévia de neoplasia
Em pacientes com diagnóstico prévio de neoplasia, as chances do NPS ser metastático são elevadas.

Exposição a agentes carcinogênicos
História de exposição ocupacional a agentes carcinogênicos, como o asbesto, aumenta a chance de malignidade.

História prévia de doenças benignas
Antecedentes de doenças como tuberculose e histoplasmose aumentam a possibilidade de benignidade do NPS. Pacientes provenientes de zonas endêmicas dessas doenças já têm maior probabilidade de causas benignas do NPS.

É claro que todos esses dados clínicos devem ser analisados dentro de um contexto maior, no qual todos são agrupados e acrescidos de outros fatores, como as características dos nódulos nos exames de imagem.

7 – Qual a importância do exame físico nos pacientes com nódulo pulmonar solitário (NPS)?
Na maioria das vezes o exame físico é normal e não auxilia na investigação diagnóstica do NPS. Deve-se atentar para:

  • Sinais de neoplasia extratorácica insuspeita: neste caso aumenta a possibilidade do nódulo pulmonar ser metastático.
  • Alterações em diferentes órgãos: possibilidade de doença sistêmica, como granulomatose de Wegener e artrite reumatóide, ou de infecções, como tuberculose e micose. Em alguns casos, encontram-se alterações em órgãos em que a biópsia é mais fácil.
  • Presença de telangectasias na pele ou nas mucosas: sugere a presença de malformação arteriovenosa.
Capítulo 3 – Exames de imagem
8 – Qual a importância da radiografia de tórax no diagnóstico do nódulo pulmonar solitário (NPS) e quais as suas limitações?
Na maioria das vezes a radiografia de tórax é o primeiro exame que identifica o NPS, geralmente ao ser realizada por outro motivo (o NPS é um achado radiológico).

Apesar desta importância, a radiografia de tórax tem suas limitações. A primeira delas é que nem sempre imagens sugestivas de NPS de fato o são, devendo-se ter cuidado, por exemplo, com:

  • sombra dos mamilos,
  • tumores de partes moles (neurofibroma),
  • superfícies articulares de costelas,
  • calo ósseo de fratura antiga de costela,
  • placa pleural,
  • pseudotumor (derrame pleural intercisural),
  • atelectasia redonda,
  • eletrodo do eletrocardiograma,
  • botão da camisa.

Outra limitação importante diz respeito às características do nódulo que sugerem maiores ou menores chances de malignidade ou benignidade, todas mais facilmente identificadas na tomografia computadorizada do que na radiografia de tórax.

A radiografia de tórax tem menor sensibilidade para a identificação de nódulos do que a tomografia computadorizada e, assim, lesões podem ser “perdidas” por esse exame, sobretudo nódulos menores, próximos a outras estruturas com densidade de partes moles, com outras estruturas sobrepostas (mais comum nos ápices) e com bordas não bem definidas.

9 – Como se pode aumentar a chance do radiologista detectar um nódulo pulmonar solitário?
Estudo na Universidade de Chicago (Li et al., 2011) comparou radiogramas de 72 pacientes com nódulo e 79 sem nódulo. Aplicou-se uma nova técnica em que se suprimem as imagens ósseas e três radiologistas viram os radiogramas com e sem supressão, com 15 dias de diferença. Observou-se melhora na capacidade de detecção de nódulos com a supressão óssea (área sob a curva -curva ROC- para os três observadores melhorou de 0,840 para 0,863, p<0,001).

Os coreanos (Song et al., 2011) avaliaram a utilidade da ajuda de computador (sistema CAD) para detectar nódulos pulmonares em tomografia computadorizada de tórax usando o modelo de 166 pacientes com câncer coloretal. O sistema CAD ajudou a detectar 426 nódulos, sendo 115 (27%) classificados como nódulos verdadeiros; destes 115 nódulos, 72% deles não foram detectados pelos radiologistas, sendo 4% calcificados. Um de cada três nódulos não calcificados era maligno. Ao contrário, pelo relatório dos radiologistas, 60 nódulos verdadeiros foram detectados, sendo que 28 destes 60 não foram detectados pelo sistema CAD. Embora o sistema CAD não tenha detectado muitos subnódulos que foram detectados pelos radiologistas, ele ajuda a detectar nódulos adicionais que não são vistos pelo radiologista.

Estudo americano utilizando o sistema CAD (Meziane et al, 2011) comparando a performance de radiologistas de tórax, radiologistas gerais e pneumologistas para a detecção de nódulo pulmonar concluiu que a utilização do computador para detectar nódulos tem melhor resultado quando o leitor do radiograma tem menos experiência em radiologia.

10 – Qual a importância da tomografia computadorizada (TC) de tórax no diagnóstico do nódulo pulmonar solitário (NPS)?
A TC de tórax deve sempre complementar a radiografia na avaliação do NPS. Ela visualiza melhor todas as características importantes do nódulo, como será discutido adiante. Ela distingue melhor o nódulo de alterações da parede torácica, pode identificar lesões adicionais, analisa melhor os ápices, regiões peri-hilares e ângulos costofrênicos e permite melhor estudo do mediastino, cujo comprometimento pode direcionar a investigação diagnóstica.
11 – Existe correspondência entre os nódulos vistos na tomografia computadorizada de tórax e os realmente detectados por palpação na cirurgia?
Estudo retrospectivo nos Estados Unidos (Ellis MC, 2011) reviu 84 pacientes que foram submetidos a 108 ressecção de metástases. O número de nódulos detectados pelo radiologista foi comparado com o número de nódulos malignos identificados pelo patologista após ressecção cirúrgica. Sarcoma foi a indicação mais comum para ressecção (50%). Toracotomia permitiu palpar maior número de nódulos do que a toracoscopia e, portanto, ressecar maior número de nódulos do aqueles identificados pela TC (3,24 vs 2,12, p<0,001), assim como foram identificados maior número de nódulos malignos pela patologia (2,40 vs 1,60, p<0,01). Os autores concluem que, embora a sensibilidade das imagens na TC tórax tenha melhorado, um número significativamente maior de nódulos são detectados no intra-operatório.
12 – Quais são as características que devem ser observadas no nódulo pulmonar solitário (NPS) nos exames de imagem (radiografia e tomografia computadorizada de tórax)?
As características a serem observadas no NPS são:

  • tamanho,
  • bordas,
  • calcificação,
  • densidade,
  • crescimento.
13 – Qual a importância do tamanho do nódulo pulmonar solitário em relação ao risco de malignidade?
Lesões maiores têm maior risco de malignidade, conforme já demonstrado por alguns autores (tabela 3).

Tabela 3. Probabilidade de malignidade no NPS conforme o seu diâmetro

Tamanho do nódulo

Probabilidade de malignidade

<3 mm
4-7 mm
8-20 mm
>20 mm

0,2%
0,9%
18%
50%

Números baseados em estatísticas de países desenvolvidos. No Brasil e em outros países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, em virtude da alta prevalência de tuberculose, eles podem ser diferentes.

14 – Que características morfológicas do nódulo pulmonar solitário (NPS) sugerem maior probabilidade de malignidade ou de benignidade?
Bordas regulares ou lobuladas são mais comuns em lesões benignas, enquanto bordas irregulares e espiculadas sugerem lesões malignas. Estas características não são absolutas e 10% a 20% dos NPS malignos têm bordas lisas.

Existe um padrão denominado “coroa radiada”, em que múltiplas e finas estriações partem perpendicularmente da superfície do nódulo, que se associa a alta probabilidade de malignidade (88% a 94% em diferentes estudos).

Outras características sugerem malignidade:

  • convergência de vaso para a lesão: sugere invasão vascular ou linfática;
  • presença de brônquio dilatado em direção ao nódulo;
  • “pseudocavitação”: representa bronquiolograma aéreo;
  • cavitação associada a parede espessa e irregular.

Por outro lado, outras características sugerem lesões benignas:

  • na fístula artério-venosa observa-se a artéria nutridora e a veia responsável pela drenagem;
  • bola fúngica: pode simular um nódulo com cavitação, mas o aspecto em lua crescente da escavação e sua mudança de posição com o decúbito permitem o diagnóstico;
  • atelectasia redonda: caracteriza-se por redução volumétrica, localização justapleural, espessamento pleural associado e presença de feixe broncovascular em forma de “cauda de cometa” que aponta para o hilo.
  • sinal do halo: área de atenuação em vidro despolido ao redor de núcleo denso, imagem sugestiva de infecção fúngica invasiva, embora possa corresponder a outras doenças infecciosas ou não infecciosas.
15 – Qual a importância da presença e dos padrões de calcificação do nódulo pulmonar solitário (NPS) em relação ao risco de malignidade?
A presença de calcificação no NPS, embora não exclua completamente a possibilidade de malignidade, aumenta as chances de se tratar de lesão benigna, sobretudo quando alguns padrões específicos são evidenciados:

  • Central: padrão encontrado nas lesões granulomatosas.
  • Difusa e homogênea: padrão de lesões benignas.
  • “Em pipoca”: característica do hamartoma.
  • Lâminas concêntricas: padrão também encontrado nas lesões granulomatosas.

Por outro lado, calcificações excêntricas, reticulares ou puntiformes não sugerem benignidade. A calcificação é mais facilmente caracterizada na TC de tórax do que na radiografia.

16 – Qual o papel da determinação da densidade do nódulo pulmonar solitário (NPS) na TC de tórax?
O coeficiente de atenuação de um NPS, expresso em unidades Hounsfield (UH), é uma medida de sua densidade. Nódulos benignos apresentam maiores coeficientes de atenuação do que os malignos, mas a sobreposição de valores entre eles é grande, não havendo consenso quanto ao ponto de corte a ser utilizado (estudos já foram conduzidos com 164, 185 e 264 UH). Por outro lado, a presença de coeficiente muito baixo sugere a presença de gordura no NPS, característica do hamartoma.

Com o objetivo de melhorar a acurácia da avaliação da densidade do NPS em predizer sua benignidade ou malignidade, tem-se preconizado avaliá-la antes e após a administração de contraste (protocolo de estudo dinâmico do nódulo após a injeção de contraste iodado intravenoso ou protocolo de Swensen, em homenagem a um de seus principais pesquisadores). Este protocolo, que pode ser aplicado a NPS entre 0,7 e 3 cm, sem calcificação ou gordura, de contornos lisos ou lobulados, consiste em realizar cortes finos (entre 1 e 3 mm) antes da infusão de contraste e após 1, 2, 3 e 4 minutos. As lesões malignas são mais vascularizadas e, assim, tendem a apresentar maiores elevações de densidade após infusão de contraste. Mesmo assim, ainda não se tem consenso em relação ao melhor ponto de corte a ser usado, como pode ser observado por alguns resultados já encontrados:

  • Realce da lesão inferior a 10 UH: valor preditivo negativo para malignidade de 100%, com sensibilidade de 100% e especificidade de 50%.
  • Realce da lesão inferior a 15 UH: valor preditivo negativo para malignidade de 96%, com sensibilidade de 98% e especificidade de 58%.
  • Realce da lesão acima a 20 UH: sensibilidade e especificidade para malignidade entre 95-100% e 70-93%, respectivamente.
17 – Qual a importância de se avaliar exames de imagem anteriores no diagnóstico do nódulo pulmonar solitário (NPS)?
A comparação da radiografia ou TC de tórax atual com nódulo pulmonar solitário com outras anteriores é muito importante, pois ela permitirá estimar a velocidade de crescimento do nódulo, habitualmente expressa como tempo de duplicação, a qual tem implicações na probabilidade de malignidade ou benignidade da lesão. Deve-se ter em mente que o nódulo é uma lesão esférica (volume=4Πr³/3) e que a radiografia ou a TC de tórax a visualiza apenas em duas dimensões; assim, um nódulo dobra de volume quando seu diâmetro aumenta em torno de 26%. O tempo de duplicação de um nódulo, em dias, pode ser estimado pela seguinte fórmula:

Em que:
t=dias entre as duas radiografias;
d2=diâmetro do nódulo na radiografia atual;
d1=diâmetro do nódulo na radiografia anterior.

Em sua grande maioria, os nódulos malignos têm tempo de duplicação entre 20 e 300 dias. Portanto, a estabilidade de um nódulo por dois ou mais anos na radiografia de tórax sugere fortemente sua benignidade e dispensa futuras investigações. Uma exceção a esta conduta são nódulos pequenos e que se apresentam como opacidade em vidro fosco, os quais devem ser seguidos com exames por um tempo mais prolongado.

18 – Qual o papel da tomografia com emissão de pósitron (PET) na avaliação do nódulo pulmonar solitário (NPS)?
A PET é um exame de imagem baseia-se na medida do metabolismo da glicose por meio da captação do marcador 2-fluorine-18-fluor-2-deoxi-D-glicose (18F-FDG). Lesões malignas têm maior metabolismo e captam mais intensamente o marcador, fazendo do FDG-PET um exame de imagem largamente usado para diagnóstico, estadiamento e evolução de tratamento de lesões neoplásicas.

A FDG-PET tem melhor rendimento do que a TC de tórax em diferenciar NPS de etiologia maligna ou benigna, com sensibilidade de 87% e especificidade de 83%. O exame não tem bom rendimento em lesões menores (<8-10 mm) e em nódulos com área de vidro despolido. Falsos-negativos são descritos no carcinoma bronquíolo-alveolar, carcinoide, adenocarcinoma mucinoso e em hiperglicemias descompensadas, enquanto falsos-positivos ocorrem em doenças infecciosas ou inflamatórias (ex. micoses, tuberculose, nódulos reumatóides, sarcoidose).

A indicação da FDG-PET deve ser considerada em um contexto de probabilidade pré-teste. Por exemplo:

  • Se a probabilidade pré-teste for elevada, mesmo um exame negativo não reduz as chances de neoplasia a ponto de se evitar a toracotomia, portanto a FDG-Pet não está indicada nesta condição.
  • Se a probabilidade pré-teste for baixa (<20%, como será discutido mais adiante), uma PET negativa reduz o risco de malignidade para 1% e, assim, evita toracotomia.
Capítulo 4 – Avaliações adicionais
19 – Como estimar numericamente o risco de malignidade no nódulo pulmonar solitário (NPS)?
Pode-se empregar a análise bayesiana para estimar a probabilidade de malignidade (pCa) do NPS. Trata-se de um modelo matemático que utiliza a razão de verossimilhança para neoplasia de diferentes características clínicas (idade, tabagismo), de imagem (tamanho) e de prevalência de malignidade na população. Posteriormente, multiplicam-se todos os valores das razões de verossimilhança, obtendo-se o odds de neoplasia. Para converter o odds de neoplasia (odds Ca) em probabilidade de neoplasia do NPS, aplica-se a seguinte fórmula:

20 – Existem outros modelos de predição de probabilidade de malignidade para nódulo solitário?
Sim. Um estudo chinês (Li et al, 2011) examinou as fichas de 371 pacientes (197 homens, 174 mulheres) com o diagnóstico de nódulo pulmonar solitário e os avaliou por uma análise multivariada, criando um modelo que foi testado em outros 62 pacientes. A mediana de idade dos pacientes do grupo de validação do modelo era 57,1 anos e 53% dos nódulos eram malignos. Análise de regressão logística identificou seis características clínicas como fatores independentes de malignidade: idade, diâmetro, bordas, calcificação, espiculação e história familiar de tumor. A área sob a curva (Curva ROC) deste modelo (0,89; IC 50% 0,78-0,99) foi maior do que outros dois modelos. A sensibilidade foi 92,5%, especificidade 81,8%, valor preditivo positivo 90,2% e valor preditivo negativo 85,7%.
21 – Qual o papel da broncofibroscopia na avaliação do nódulo pulmonar solitário (NPS)?
A broncofibroscopia tem papel limitado na avaliação do NPS. Seu rendimento depende do tamanho do nódulo, sendo a sensibilidade para detectar lesões malignas de 10% em nódulos menores que 1,5 cm, de 40-60% para os nódulos entre 2 e 3 cm. Outros fatores que interferem no rendimento são a proximidade da árvore brônquica e a prevalência de câncer na população. A presença do sinal do brônquio na TC do tórax, ou seja, quando a imagem revela a existência de um brônquio que chega até o nódulo, aumenta o rendimento da broncofibroscopia nos pacientes com NPS malignos para 60% a 80%. A broncoscopia raramente é diagnóstica quando o nódulo é de natureza benigna.

Quando já se decidiu pela toracotomia na abordagem do NPS, a broncoscopia está indicada para excluir a presença de tumor oculto ou sincrônico.

22 – Qual o impacto de novas técnicas de fibroncoscopia para a detecção de nódulo pulmonar?
Foi realizada uma pesquisa na Medline (Wang Memoli, 2011) aonde se procurou por diversas técnicas de broncoscopia guiadas por tecnologias desenvolvidas para melhorar o rendimento das biópsias transbrônquicas para o diagnóstico de nódulos: navegação electromagnética (ENB), broncoscopia virtual (VB), ultrassom endobrônquico radial (R-EBUS), broncoscópio ultrafino. Um total de 3.052 lesões de 39 estudos foram incluídas. O rendimento diagnóstico foi 70%, que é maior do que o rendimento de biópsias transbrônquicas tradicionais. O rendimento aumentou com o aumento do tamanho da lesão. A taxa de pneumotórax foi 1,6%, a qual é menor do que a taxa relatada para biópsias transtorácicas. O rendimentoainda é menor do que para biópsias transtorácicas, mas com considerável menor risco.
23 – Qual o papel da punção aspirativa percutânea com agulha fina na avaliação do nódulo pulmonar solitário (NPS)?
NPS periféricos podem ser abordados com punção transtorácica com agulha fina. O rendimento do método varia segundo alguns fatores, como o tamanho do nódulo e a experiência da equipe (de quem executa o procedimento e de quem analisa o material). Para lesões malignas, sensibilidade e especificidade variam, respectivamente, entre 80-95% e 50-88%. As taxas de falsos-negativos variam de 3% a 29%, valores que não são desprezíveis diante das implicações de não se fazer o diagnóstico precoce de um possível câncer de pulmão.

A principal complicação é o pneumotórax, que chega a ocorrer em 30% dos casos, embora, na maioria das vezes, sem necessidade de qualquer intervenção.

Um estudo recente (2011) reviu a evolução de 15.865 adultos que foram submetidos a biópsia de agulha por nódulo pulmonar. Embora a hemorragia fosse uma complicação rara, somente acometeu 1% dos pacientes, 17,8% deles necessitaram transfusão sanguínea. O risco de pneumotórax foi muito maior, chegando a 15% (95% CI 14.0-16.0%), sendo que 6,6% (95% CI 6.0-7.2%) de todas as punções resultaram na necessidade de drenagem torácica. Pacientes com 60-69 anos (em oposição aos mais jovens), fumantes e os com DPOC tiveram maior risco de complicações.

24 – Qual o papel da cirurgia na condução do nódulo pulmonar solitário (NPS)?
A cirurgia é o método diagnóstico definitivo para o NPS, ao mesmo tempo em que é um procedimento de baixa mortalidade, a qual fica entre 3% a 7% nas lesões malignas e menos que 1% nas benignas.

Idealmente, os NPS que não podem ser definidos como benignos, ou seja, os indefinidos e os sabidamente malignos, devem ser ressecados. É claro que cada caso deve ser analisado isoladamente, sempre se estabelecendo uma correlação entre a probabilidade de malignidade do nódulo e os riscos da cirurgia naquele paciente.

Os nódulos indefinidos e obviamente os malignos devem ser ressecados. Deve-se lembrar que os pacientes com tumores malignos do pulmão menores do que 3 cm e sem comprometimento linfonodal loco regional têm sobrevida em 5 anos maior que 80%.

A toracoscopia vídeo-assistida tem sido cada vez mais utilizada na abordagem dos NPS, reduzindo a morbidade e duração da internação em comparação com a toracotomia convencional. Ela deve ser acompanhada de biópsia de congelação e, na presença de lesão maligna, convertida para toracotomia póstero-lateral padrão, pois somente ela permitiria o estudo adequado dos linfonodos mediastinais.

25 – Qual a possibilidade de malignidade em um nódulo solitário pulmonar em pacientes que já são portadores de câncer?
Estudo na Alemanha (2010), com 22 pacientes que foram submetidos à ressecção por videotoracoscopia, mostrou que o diagnóstico de metástase foi confirmado em 36,4% dos pacientes; em outros 36,4% o nódulo era um tumor primário do pulmão (isto é, um segundo tumor); em somente 27,2% o nódulo era benigno. Em estudo no Japão (2011), em 1.226 pacientes com câncer de mama, 49 pacientes (3,9%) apresentavam um nódulo pulmonar no período pré-diagnóstico ou com aparecimento após o diagnóstico. Em 14 pacientes o nódulo foi ressecado e em oito deles o diagnóstico era metástase do câncer de mama; em três era um tumor primário do pulmão (todos adenocarcinoma); e era benigno em três casos. Os autores chamam a atenção para a utilização de exames histoquímicos (TTF-1 e GCDFP-15) para diferenciar o câncer pulmonar de uma lesão metastática do câncer de mama.
26 – Diante de todas as possibilidades consideradas, como pode ser resumida a abordagem do nódulo pulmonar solitário (NPS)?
Em primeiro lugar, é importante salientar que não uma abordagem de NPS que tenha sido baseada em evidências científicas. Elas têm sido baseadas em experiências de autores e serviços e, por isso, fluxogramas diferentes são encontrados nas diversas publicações sobre o tema. A seguir apresentamos as propostas do American College of Chest Physicians, publicadas em 2007, as quais se dividem em duas partes conforme o nódulo seja < ou >8 mm